quarta-feira, 14 de março de 2007

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Casamos novos.

Ela com 19 e eu com 20 anos de idade.

Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casaprópria e o primeiro bebê.

Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquelamuambazinha por um preço módico.

Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento.

Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme.

Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos.

Meu filho e minha esposa eram o meu orgulho.

Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.

Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro.

As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato.

O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu urologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata.

Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele Jura que era só um!) quase na minha garganta e a mulher gritando:

- Ah! Doutor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita.

Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar.

O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz.

A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:

- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora.

Alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim.

Eu pago o reembolso.


Luiz Fernando Veríssimo
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quarta-feira, 14 de março de 2007 às 8:09:00 AM |  
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Casamos novos.

Ela com 19 e eu com 20 anos de idade.

Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casaprópria e o primeiro bebê.

Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquelamuambazinha por um preço módico.

Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento.

Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme.

Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos.

Meu filho e minha esposa eram o meu orgulho.

Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.

Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro.

As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato.

O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu urologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata.

Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele Jura que era só um!) quase na minha garganta e a mulher gritando:

- Ah! Doutor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita.

Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar.

O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz.

A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:

- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora.

Alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim.

Eu pago o reembolso.


Luiz Fernando Veríssimo
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