Nesta semana, tenho recebido muitos e-mails me desejando Feliz Páscoa, aos quais agradeço de coração. A Páscoa, como todos sabem, é uma das maiores festas da cristandade, onde se comemora a ressurreição de Cristo.
Quando eu era menina, essas histórias soavam meio estranhas na minha cabeça pois a contabilidade não batia bem: se Jesus foi crucificado e morreu na sexta-feira, e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos, como é que se comemora a ressurreição no domingo, apenas dois dias depois? Para a minha mente lógica de pequena pentelha de oito anos, algo estaria errado nessa conta, até que aprendi que nesses assuntos de religião a gente não questiona muito não, senão a freira vem e põe você de castigo. Aí, nada de ovos de chocolate.
Pois muito bem: se a festa é para comemorar a ressurreição de Cristo, mesmo considerando dois dias no lugar de três, o que isso tem a ver com ovos e coelhos? Só consegui entender isso depois de adulta, meu caro leitor, e compartilho aqui com você o que andei descobrindo.
É que a Páscoa é uma festa muito mais antiga do que Cristo, muito mais antiga do que a cristandade. Para os povos pagãos, que viveram alguns milhares de anos antes de Cristo, a Páscoa, celebrada no hemisfério norte no equinócio da Primavera - ou nas suas proximidades - celebrava as divindades ligadas à fertilidade do solo. Para estes povos, a fertilidade tinha uma grande importância porque a produção nos campos era a base da vida comunitária, que os permitia enfrentar os dias difíceis e estéreis do Inverno.
Na mitologia céltica e saxônica, por exemplo, celebrava-se nessa época a deusa Eostar, que presidia o nascimento da Primavera e o redespertar da vida na terra. Então ovos eram pintados e enterrados para que fossem encontrados depois pelas crianças, já que o ovo é sinal de uma nova vida que renasce. A lebre, que era o símbolo do renascimento e da ressurreição entre essas culturas, também era o animal sagrado dedicado a Eostar.
Quando a Igreja católica se estabeleceu como instituição, por volta do século III depois de Cristo, as festas pagãs foram cristianizadas, ou seja, sua estrutura e data foram mantidas e deslocou-se a reverência aos deuses pagãos para os fatos da vida de Cristo e dos santos. Isso aconteceu com o Natal, as festas juninas, e tantas outras. O Domingo de Páscoa ainda é determinado pelo calendário lunar, e é o primeiro domingo após a Lua Cheia que coincide ou vem em seguida ao Equinócio da Primavera. Nos países de língua inglesa a palavra Páscoa, em inglês, é Easter, palavra derivada de Eostar.
Então, estão explicados os ovos e os coelhos, e o sentimento de ressurreição, de renovação, que deve passar por todos nós nessa época, independente da religião que professemos. É bom para plantar, para mergulhar as sementes na terra, para visualizar as colheitas futuras que deverão surgir dos grãos plantados hoje.
Abençoada seja Eostar, esta deusa tão gentil, que recupera do frio solo do Inverno as coloridas flores da Primavera, prometendo os frutos dourados pelo sol do Verão.
por Clotilde Tavares
Quando eu era menina, essas histórias soavam meio estranhas na minha cabeça pois a contabilidade não batia bem: se Jesus foi crucificado e morreu na sexta-feira, e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos, como é que se comemora a ressurreição no domingo, apenas dois dias depois? Para a minha mente lógica de pequena pentelha de oito anos, algo estaria errado nessa conta, até que aprendi que nesses assuntos de religião a gente não questiona muito não, senão a freira vem e põe você de castigo. Aí, nada de ovos de chocolate.
Pois muito bem: se a festa é para comemorar a ressurreição de Cristo, mesmo considerando dois dias no lugar de três, o que isso tem a ver com ovos e coelhos? Só consegui entender isso depois de adulta, meu caro leitor, e compartilho aqui com você o que andei descobrindo.
É que a Páscoa é uma festa muito mais antiga do que Cristo, muito mais antiga do que a cristandade. Para os povos pagãos, que viveram alguns milhares de anos antes de Cristo, a Páscoa, celebrada no hemisfério norte no equinócio da Primavera - ou nas suas proximidades - celebrava as divindades ligadas à fertilidade do solo. Para estes povos, a fertilidade tinha uma grande importância porque a produção nos campos era a base da vida comunitária, que os permitia enfrentar os dias difíceis e estéreis do Inverno.
Na mitologia céltica e saxônica, por exemplo, celebrava-se nessa época a deusa Eostar, que presidia o nascimento da Primavera e o redespertar da vida na terra. Então ovos eram pintados e enterrados para que fossem encontrados depois pelas crianças, já que o ovo é sinal de uma nova vida que renasce. A lebre, que era o símbolo do renascimento e da ressurreição entre essas culturas, também era o animal sagrado dedicado a Eostar.
Quando a Igreja católica se estabeleceu como instituição, por volta do século III depois de Cristo, as festas pagãs foram cristianizadas, ou seja, sua estrutura e data foram mantidas e deslocou-se a reverência aos deuses pagãos para os fatos da vida de Cristo e dos santos. Isso aconteceu com o Natal, as festas juninas, e tantas outras. O Domingo de Páscoa ainda é determinado pelo calendário lunar, e é o primeiro domingo após a Lua Cheia que coincide ou vem em seguida ao Equinócio da Primavera. Nos países de língua inglesa a palavra Páscoa, em inglês, é Easter, palavra derivada de Eostar.
Então, estão explicados os ovos e os coelhos, e o sentimento de ressurreição, de renovação, que deve passar por todos nós nessa época, independente da religião que professemos. É bom para plantar, para mergulhar as sementes na terra, para visualizar as colheitas futuras que deverão surgir dos grãos plantados hoje.
Abençoada seja Eostar, esta deusa tão gentil, que recupera do frio solo do Inverno as coloridas flores da Primavera, prometendo os frutos dourados pelo sol do Verão.
por Clotilde Tavares
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