sexta-feira, 18 de maio de 2007

Romi, sempre na frente

A empresa que criou o primeiro carro brasileiro, Romi-Isetta, em 1956, é um exemplo de indústria nacional pioneira. Hoje, aos 76 anos, é uma das maiores fabricantes de máquinas-ferramenta e máquinas injetoras de plástico da América Latina. Em 2005 faturou R$ 507 milhões. Conheça um pouco dessa história de sucesso.


Romi-Isetta em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus, na década de 50: primeiro carro brasileiro
São Paulo - A história das Indústrias Romi S.A. se confunde com a história do setor de máquinas. Por meio dela também é possível resgatar os últimos 76 anos da história brasileira. Seu fundador, Américo Emílio Romi, filho de imigrantes italianos, era um desses visionários que enxergavam longe. A Romi nasceu de uma pequena garagem de reparos mecânicos de automóveis, em 1930, na cidade de Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo.

Mas a aventura de Emílio começou um pouco antes, na Itália, para onde se mudou com os pais na adolescência. Em Milão, enquanto estudava Eletrotécnica, foi convocado para a Primeira Guerra Mundial. Já casado, decidiu tentar a sorte em sua terra natal. Voltou ao Brasil e se instalou em São Paulo, onde já deu sinais de sua ousadia ao abrir a primeira oficina mecânica 24 horas da avenida Paulista. Isso em 1924. E foi justamente por causa da revolução de 24 que em pouco tempo perdeu a oficina. Seu ponto era estratégico e os soldados passaram a usá-lo como base. Depois de mais uma tentativa, dessa vez no bairro Ipiranga, quando foi roubado pelo sócio, decidiu mudar para o interior.

Após alguns empregos e tentativas de negócio, finalmente se estabeleceu em Santa Bárbara. Como havia uma colônia americana na região, formada por fugitivos da Guerra de Secessão americana, ele percebeu que havia demanda para implementos agrícolas e começou a fabricar arados e outros produtos. Mudou o nome da empresa para "Máquinas Agrícolas Romi Ltda."

Muitos anos antes de se falar em etanol, muito antes mesmo do programa Proálcool, Emílio Romi se juntou a um engenheiro que vinha fazendo experiências com gasolina misturada ao álcool. Isso foi em 1932. A revolta Constitucionalista fez a gasolina, que era importada, ficar escassa. Daí a idéia de fazer um novo combustível. Juntos, eles criaram a "autolina", e chegaram a comercializar o novo produto em galões de cinco e dez litros. O problema era que a produção era limitada e a desconfiança grande. Por esse motivo, assim que acabou a guerra, a autolina deixou de ser produzida.

A empresa deu sua guinada definitiva nos anos 40. E de novo por causa de uma guerra. Com a Segunda Guerra Mundial, a Romi começou a ruir. Faltava aço no mercado e o combustível passou a ser controlado pelo governo. A cota a que Emílio tinha direito mantinha seu forno de fundição funcionando por apenas dois dias. Foi quando um de seus filhos sugeriu uma mudança de rumo: fabricar tornos.

Para viabilizar a idéia, eles desmontaram um dos tornos usados na fábrica, fizeram algumas alterações, melhorias e criaram o primeiro torno da Romi, batizado de Imor (Romi ao contrário). Isso foi em 1941. Em 1944, já exportavam para a Argentina. Daí em diante, o negócio deslanchou e a empresa de Santa Bárbara se consolidou como grande fabricante de máquinas-ferramenta.

Ovo de avestruz

A empresa estava consolidada. Mas Emílio Romi continuava maquinando. Em 1956, a Romi lançou nada menos que o primeiro carro nacional, o Romi-Isetta, que virou xodó nacional. Tratava-se de uma parceria com uma fabricante de Milão. Aqui, o automóvel italiano passou a ser produzido pela Romi com 70% de sua composição nacional. O carrinho, minúsculo, fez um tremendo sucesso. Ganhou vários apelidos como "ovo de avestruz", "sapo bola" e ainda "abre que eu quero ver" (a porta abria pela frente). O Romi-Isetta apareceu no programa Alô Doçura de Eva Wilma e John Herbert e em um filme com Anselmo Duarte.

Era um carro extremamente simples. Feito de apenas seis mil peças, pesava 330 quilos, tinha 1,35 metro de altura e 2,25 metros de comprimento. Duas rodas dianteiras e duas traseiras distantes apenas 50 centímetros uma da outra. Motor à gasolina com capacidade para 13 litros. Quatro marchas, além da ré. E alcançava até 85 quilômetros por hora. Ao todo, três mil veículos foram colocados em circulação.

No entanto, apenas três anos depois, em 1959, o Romi-Isetta deixou de ser fabricado. Já não valia mais a pena. Isso porque ele não se encaixava em uma série de benefícios que o governo concedia à indústria automobilística, mas apenas para carros maiores, com quatro lugares. No Romi-Isetta, com um certo aperto, cabiam três pessoas. Em 2006 o carro completou 50 anos. Em setembro, a empresa celebrou a data em Santa Bárbara com exposições e palestras de sua mais famosa criação. Houve até uma carreata pela cidade com os "ovinhos" mantidos por colecionadores.

O ano de 1959 também foi marcado pela morte de Emílio. A empresa passou a ser comandada pelos seus filhos, a segunda geração. Em 1962, passou a se chamar Indústrias Romi S.A. Dez anos depois, em 1972, virou uma empresa de capital aberto. No ano seguinte, a Romi lançou o primeiro Torno a CN (Comando Numérico) do Brasil. Por fim, nos anos 80, abriu um centro de comercialização nos Estados Unidos já de olho no crescimento das exportações.

Hoje, a empresa conta com 2,5 mil funcionários e exporta para mais de 60 países. Em 2005, o faturamento foi de R$ 507 milhões. Nada mal para quem começou como uma oficina mecânica em 1930.


ANBA

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sexta-feira, 18 de maio de 2007 às 9:48:00 AM |  
A empresa que criou o primeiro carro brasileiro, Romi-Isetta, em 1956, é um exemplo de indústria nacional pioneira. Hoje, aos 76 anos, é uma das maiores fabricantes de máquinas-ferramenta e máquinas injetoras de plástico da América Latina. Em 2005 faturou R$ 507 milhões. Conheça um pouco dessa história de sucesso.


Romi-Isetta em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus, na década de 50: primeiro carro brasileiro
São Paulo - A história das Indústrias Romi S.A. se confunde com a história do setor de máquinas. Por meio dela também é possível resgatar os últimos 76 anos da história brasileira. Seu fundador, Américo Emílio Romi, filho de imigrantes italianos, era um desses visionários que enxergavam longe. A Romi nasceu de uma pequena garagem de reparos mecânicos de automóveis, em 1930, na cidade de Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo.

Mas a aventura de Emílio começou um pouco antes, na Itália, para onde se mudou com os pais na adolescência. Em Milão, enquanto estudava Eletrotécnica, foi convocado para a Primeira Guerra Mundial. Já casado, decidiu tentar a sorte em sua terra natal. Voltou ao Brasil e se instalou em São Paulo, onde já deu sinais de sua ousadia ao abrir a primeira oficina mecânica 24 horas da avenida Paulista. Isso em 1924. E foi justamente por causa da revolução de 24 que em pouco tempo perdeu a oficina. Seu ponto era estratégico e os soldados passaram a usá-lo como base. Depois de mais uma tentativa, dessa vez no bairro Ipiranga, quando foi roubado pelo sócio, decidiu mudar para o interior.

Após alguns empregos e tentativas de negócio, finalmente se estabeleceu em Santa Bárbara. Como havia uma colônia americana na região, formada por fugitivos da Guerra de Secessão americana, ele percebeu que havia demanda para implementos agrícolas e começou a fabricar arados e outros produtos. Mudou o nome da empresa para "Máquinas Agrícolas Romi Ltda."

Muitos anos antes de se falar em etanol, muito antes mesmo do programa Proálcool, Emílio Romi se juntou a um engenheiro que vinha fazendo experiências com gasolina misturada ao álcool. Isso foi em 1932. A revolta Constitucionalista fez a gasolina, que era importada, ficar escassa. Daí a idéia de fazer um novo combustível. Juntos, eles criaram a "autolina", e chegaram a comercializar o novo produto em galões de cinco e dez litros. O problema era que a produção era limitada e a desconfiança grande. Por esse motivo, assim que acabou a guerra, a autolina deixou de ser produzida.

A empresa deu sua guinada definitiva nos anos 40. E de novo por causa de uma guerra. Com a Segunda Guerra Mundial, a Romi começou a ruir. Faltava aço no mercado e o combustível passou a ser controlado pelo governo. A cota a que Emílio tinha direito mantinha seu forno de fundição funcionando por apenas dois dias. Foi quando um de seus filhos sugeriu uma mudança de rumo: fabricar tornos.

Para viabilizar a idéia, eles desmontaram um dos tornos usados na fábrica, fizeram algumas alterações, melhorias e criaram o primeiro torno da Romi, batizado de Imor (Romi ao contrário). Isso foi em 1941. Em 1944, já exportavam para a Argentina. Daí em diante, o negócio deslanchou e a empresa de Santa Bárbara se consolidou como grande fabricante de máquinas-ferramenta.

Ovo de avestruz

A empresa estava consolidada. Mas Emílio Romi continuava maquinando. Em 1956, a Romi lançou nada menos que o primeiro carro nacional, o Romi-Isetta, que virou xodó nacional. Tratava-se de uma parceria com uma fabricante de Milão. Aqui, o automóvel italiano passou a ser produzido pela Romi com 70% de sua composição nacional. O carrinho, minúsculo, fez um tremendo sucesso. Ganhou vários apelidos como "ovo de avestruz", "sapo bola" e ainda "abre que eu quero ver" (a porta abria pela frente). O Romi-Isetta apareceu no programa Alô Doçura de Eva Wilma e John Herbert e em um filme com Anselmo Duarte.

Era um carro extremamente simples. Feito de apenas seis mil peças, pesava 330 quilos, tinha 1,35 metro de altura e 2,25 metros de comprimento. Duas rodas dianteiras e duas traseiras distantes apenas 50 centímetros uma da outra. Motor à gasolina com capacidade para 13 litros. Quatro marchas, além da ré. E alcançava até 85 quilômetros por hora. Ao todo, três mil veículos foram colocados em circulação.

No entanto, apenas três anos depois, em 1959, o Romi-Isetta deixou de ser fabricado. Já não valia mais a pena. Isso porque ele não se encaixava em uma série de benefícios que o governo concedia à indústria automobilística, mas apenas para carros maiores, com quatro lugares. No Romi-Isetta, com um certo aperto, cabiam três pessoas. Em 2006 o carro completou 50 anos. Em setembro, a empresa celebrou a data em Santa Bárbara com exposições e palestras de sua mais famosa criação. Houve até uma carreata pela cidade com os "ovinhos" mantidos por colecionadores.

O ano de 1959 também foi marcado pela morte de Emílio. A empresa passou a ser comandada pelos seus filhos, a segunda geração. Em 1962, passou a se chamar Indústrias Romi S.A. Dez anos depois, em 1972, virou uma empresa de capital aberto. No ano seguinte, a Romi lançou o primeiro Torno a CN (Comando Numérico) do Brasil. Por fim, nos anos 80, abriu um centro de comercialização nos Estados Unidos já de olho no crescimento das exportações.

Hoje, a empresa conta com 2,5 mil funcionários e exporta para mais de 60 países. Em 2005, o faturamento foi de R$ 507 milhões. Nada mal para quem começou como uma oficina mecânica em 1930.


ANBA
Postado por Igor Viana Marcadores: ,

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