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Uma mulher rica tenta transformar um pobretão num homem sofisticado e, claro, acaba se apaixonando por ele.
Era assim a história de ´Pigmalião 70´, novela da TV Globo, de 1970, que iniciou uma linguagem, hoje, considerada típica das tramas do horário das sete.
O autor Vicente Sesso, que vinha da TV Excelsior, criou um estilo leve, próximo à comédia.
Considerada o primeiro grande sucesso da emissora nesse horário, a novela era uma adaptação da peça ´Pigmalião´, de Bernard Shaw.
Mas Sesso optou por inverter os papéis do teatro e fazer uma mulher tentar transformar um homem.
O par romântico era o feirante Fernando Dalba, o Nando, e a socialite Cristina Melo Guimarães, vividos pelos atores Sérgio Cardoso e Tônia Carrero. Nando trabalhava na feira, ajudando sua mãe, a Baronesa (Wanda Kosmo), e os amigos Gino (Felipe Carone) e Guiomar (Norah Fontes). A sua namorada, Candinha (Suzana Vieira, que fazia sua estréia na Globo), também era feirante.
Mas Nando acaba batendo no carro da ricaça Cristina Melo Guimarães e estava armado o gancho para vários capítulos da história. Inicialmente, por uma aposta com os amigos e depois por amor, a socialite - o Pigmalião - resolve ensinar o feirante a se comportar como uma pessoa da alta sociedade.
A bela Cristina tinha um salão de beleza e vivia cercada pelo filho, Kiko (Marcos Paulo), pela doce amiga Lalá (Maria Luiza Castelli), pela secretária Marlene (Jacira Silva), por Carlito (Edney Giovenazzi) e por Mirtis Catalão (Célia Biar).
O resultado foi uma novela alegre, inteligente e que agradou ao público.
A revisão do paraísoEm sua ´História da literatura ocidental´, Otto Maria Carpeaux divide a história do romance em duas épocas: antes e depois de Balzac. Antes dele, designava uma história extraordinária. Depois, o espelho do nosso mundo.
O autor Gilberto Braga pertence a um grupo de novelistas que também elevou o conceito do gênero. Não por acaso, ele começou sua carreira solo em 1975, adaptando dois grandes balzaquianos no Brasil: Machado de Assis, em ´Helena´, e José de Alencar, em ´Senhora´, clássico romance que trata o dinheiro como corruptor de valores.Em 1976, com ´Escrava Isaura´, Gilberto ampliou o romance de Bernardo Guimarães e mostrou com tintas mais fortes o contraste entre opressores e oprimidos.
Podemos considerar ´Dona Xepa´, de 1977, adaptação do texto teatral de Pedro Bloch, a novela que abre sua imensa galeria de alpinistas sociais, vilãs que adoram espezinhar os pobres e enriquecer a qualquer preço.
A maturidade acontece em ´Dancin´ days´, novela que virou mania nacional em 1978 ao confrontar o universo de duas irmãs, a ex-presidiária Júlia (Sônia Braga) e a frívola socialite Yolanda Pratini (Joana Fomm), na briga pela jovem Marisa (Glória Pires), filha da primeira mas criada pela segunda.Entre o final dos anos 80 e início dos 90, com o país perdido em suas falcatruas, vem o Brasil do ´Vale tudo´ e da ´Pátria minha´.
Enquanto ´Vale tudo´ mostrou que valia pagar qualquer preço para subir na vida, ´Pátria minha´ dava a luz no fim do túnel.Retratos de uma sociedade encontram morada em “Paraíso tropical”, sua atual novela em parceria com Ricardo Linhares. Pelo folhetim, desfilam tipos com o objetivo único de ascender na vida social.
Se com sua ampla ´Visão do paraíso´, tese publicada em 1959, o historiador Sérgio Buarque de Holanda começou a mostrar-nos os motivos peculiares que presidiram aos descobrimentos de nossas terras tropicais, e que desde sempre, à utopia paradisíaca se opôs uma fantasia demoníaca.
Gilberto Braga tem feito a revisão deste paraíso. E, como bem notou o jornalista Arnaldo Bloch, utilizando-se de Copacabana, o centro mais plural do país.
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