quinta-feira, 28 de junho de 2007

Russos organizam 'Big Brother' marciano


Seis desconhecidos confinados em um espaço fechado e observados 24 horas por dia. Parece um formato batido de programa de televisão? Que nada, é ciência espacial! Em parceria com pesquisadores europeus, cientistas russos planejam, no primeiro semestre de 2009, trancar um grupo de pessoas por 520 dias (é quase um ano e meio!) e estudar que problemas médicos e psicológicos podem surgir. O objetivo: se preparar para potenciais dificuldades humanas de uma missão a Marte.

Viajar ao planeta vermelho envolve mais que complicadas questões tecnológicas, como o tipo de foguete a ser usado e o desenvolvimento do módulo de pouso. Com a tecnologia atual, as sondas que enviamos a Marte demoram cerca de dois anos para sair daqui e chegar lá. Em uma futura missão tripulada, a viagem de ida e volta seria imensamente mais longa do que a parte no planeta em si. Em média, a duração prevista seria de, no mínimo, dois anos de viagem (ida e volta) para passar não mais que 30 dias por lá.

Passar dois anos a milhares de quilômetros do hospital mais próximo traz riscos de saúde grandes e óbvios. Em dois anos pessoas adoecem, morrem e nascem. E também cortam o dedo, arrancam a unha, quebram o braço e batem a cabeça. Têm brigas e se apaixonam. São coisas normais, que rumo a Marte podem se tornar um perigo à vida da tripulação e ao sucesso da missão.

Ninguém pode responder direito o que pode acontecer, porque, na prática, ninguém sabe o que vai se passar na cabeça dos astronautas durante uma missão como essa - por mais profissionais sérios e treinados que sejam. É por isso que o projeto Mars500 (“Mars” é Marte em inglês e o 500 se refere ao número de dias de confinamento) foi criado.

Baseado no programa montado pela Rússia para uma missão real a Marte, o projeto vai confinar seis pessoas, com formação científica, em instalações do Instituto de Problemas Biomédicos da Federação Russa, em Moscou. Haverá três fases principais: a simulação da viagem de ida (que levaria cerca de 250 dias), da chegada e descida em Marte (30 dias) e da viagem de volta (240 dias).

Durante todo o projeto eles estarão completamente isolados e vão realizar experimentos científicos como astronautas de verdade. A comida e a água que forem colocadas ali no primeiro dia -- iguaizinhas àquelas que os tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) consomem -- vão precisar durar até o fim da simulação. As horas de atividade também serão iguais às da ISS: eles terão dois dias de folga a cada cinco de trabalho. Com a exceção do comandante, os outros tripulantes vão se revezar nos turnos da noite.

Os participantes só poderão se comunicar por rádio, que também vai simular a viagem a Marte -- ou seja, haverá um atraso nas comunicações de 20 minutos. O “astronauta” pergunta e só 20 minutos depois o controle de missão receberá a questão. Eles respondem e são mais 20 minutos até a tripulação receber a resposta. Qualquer emergência que ocorra lá dentro, real ou simulada, eles terão que resolver sozinhos.


“Com a finalização da construção da Estação Espacial Internacional, missões tripuladas à Lua e a Marte são o próximo passo lógico da exploração espacial e estudos de isolamento são uma ferramenta importante para investigar os efeitos de longo prazo nos seres humanos, e também para testar as ferramentas e os procedimentos operacionais envolvidos em um projeto como esse”, explica Jennifer Ngo-Anh, a responsável pela participação da Agência Espacial Européia (ESA) no projeto russo.

Segundo ela, a idéia principal é imitar da melhor maneira possível todos os aspectos do ambiente de uma nave espacial. Isso inclui limitação de espaço e de recursos, perda da Terra como referência visual e de coisas como a luz solar e o ciclo normal de dia e noite. “Simulações como essa ficam centradas nas investigações de natureza psicológica. Por exemplo, os efeitos do isolamento, do confinamento, da composição da equipe, das diferenças sócio-culturais entre os tripulantes e de outros fatores humanos, individuais e coletivos, na perfomance do grupo”, diz ela. Como extra, iniciativas do tipo servem para testar também equipamentos e a comunicação entre “astronautas” e o controle de missão.

Em “Marte”

A instalação onde os ‘brothers de Marte’ ficarão confinados é composta por cinco módulos (veja gráfico). A área dos quatro onde eles vão viver a maior parte do tempo é de 550 metros cúbicos (cúbicos, porque simula uma nave espacial, onde, pela ausência de gravidade, todo o espaço pode ser usado) - o que é excelente para um apartamento, mas um pouco apertado para seis pessoas levarem uma vida durante um ano e meio. Cada módulo tem uma função exclusiva. O primeiro é onde serão feitas as pesquisas e onde eventuais problemas de saúde poderão ser tratados (em caso de alguma doença contagiosa, por exemplo, o tripulante fica isolado do resto dos colegas ali). O segundo é onde os participantes vão dormir (em quartos individuais), comer, tomar banho, conversar e conviver. O terceiro é o módulo de órbita e pouso em Marte. O quarto abriga a despensa e o quinto, externo, é “Marte”.

Quando chegarem à segunda fase da missão três tripulantes selecionados vão ter a “honra” de simular os trabalhos no planeta. Se na vida real ser escolhido para pisar em Marte será uma honraria disputada por astronautas de todo o mundo, na simulação russa pode ser uma grande roubada. Os três “sortudos” passarão 30 dias isolados dos outros três, “em Marte”. Até aí, tudo bem. O problema é que antes do “pouso”, eles ficarão outros 30 dias presos às suas camas em posição inclinada, com a cabeça mais baixa que o corpo. O objetivo não é torturar ninguém, mas simular fisiologicamente alguns dos efeitos da gravidade reduzida.


“Durante esse tipo de estudo em cama é possível simular muitos dos fenômenos que ocorrem quando estamos em microgravidade, como a elevação dos fluídos do corpo e a redistribuição do peso, entre outros”, explica Jennifer Ngo-Anh.

O truque de colocar participantes quase de ponta cabeça para simular a microgravidade pode até dar certo, mas não há jeito de se simular a sensação de ausência de gravidade na Terra (pelo menos não por longos períodos de tempo). Essa é uma das coisas que o Mars500 não poderá testar e é um dos principais problemas de uma missão espacial de longa duração.

A ausência de gravidade enfraquece ossos e atrofia músculos. Na Estação Espacial Internacional, onde astronautas ficam no máximo seis meses consecutivos, há uma esteira onde eles são obrigados a correr regularmente para tentar minimizar os problemas causados pela falta de peso. Rumo a Marte, com aparente gravidade zero por muito mais tempo, o problema deve ser ainda maior.

Riscos e tabus

As questões que o projeto russo pretende responder são sérios dilemas éticos, que estão tirando o sono de especialistas de todo o mundo. Recentemente, um documento da Nasa divulgado à imprensa pedia mais discussões sobre o que fazer em casos como doença e morte durante uma missão de longa duração.

Parece excesso de pessimismo? Pois está longe de ser. Um simples corte no dedão que infeccionasse de forma grave durante uma missão poderia causar problemas graves, e ameaçaria todo o sucesso da missão. Mesmo que houvesse um médico a bordo há certas coisas que só podem ser tratadas em um hospital. O que fazer se o apêndice de um tripulante estourar durante a viagem? Se alguém se estranhar com um equipamento e perder um braço? Se dois astronautas, estressados pela pressão de um projeto como esse, perdessem a cabeça e brigassem até algum se machucar de verdade?

Na teoria, gostaríamos de acreditar que vidas humanas seriam mais importantes e que a missão deveria ser abortada e a nave levada de volta à Terra. Mas no espaço as coisas não são tão simples. Não é possível simplesmente virar a nave 180º e voltar para a Terra, porque viagens do tipo são cuidadosamente calculadas. O combustível é contado e a trajetória depende da gravidade dos corpos celestes por ali.

Há mais: o que fazer se alguém morrer a bordo? Jogar o corpo pela escotilha como lixo espacial? Não parece algo que as famílias vão gostar muito. Ou deixar o que restou da tripulação conviver com um cadáver a bordo por meses a fio? Outro ponto, mais tabu nas agências espaciais que a morte: o sexo. Não é difícil imaginar que uma tripulação mista, confinada por tanto tempo junta, estressada e pressionada, comece a ter pensamentos menos profissionais e mais carnais ao olhar para os colegas. E nenhuma agência até agora parece levar essa possibilidade numa boa.

O que fazer para minimizar esse tipo de coisa? Levar tripulações somente com homens ou somente com mulheres não vai parecer lá muito bem aos olhos de quem defende a igualdade entre os sexos - e, de qualquer maneira, ninguém garante que esse é um modo muito eficiente de evitar o sexo no espaço. No caso de doenças, parece inteligente levar astronautas mais jovens do que mais velhos, que, embora mais experientes, também são mais sujeitos a problemas de saúde. Por outro lado, a radiação espacial pode causar infertilidade e problemas genéticos nos óvulos e espermatozóides - e, nesse ponto, os astronautas mais velhos, que já tiveram filhos, levam vantagem, pois têm menos a perder.

A tripulação e o início da jornada

É por isso que a seleção das vagas para o Mars500 será rigorosa. A distribuição entre homens e mulheres vai depender de quem se qualificar melhor na seleção. Sabe-se, no entanto, que a tripulação será internacional e deverá falar inglês e russo. Segundo Jennifer Ngo-Anh, a seleção será o mais próxima possível da feita com candidatos a astronautas de verdade. “É claro que nossos voluntários estão a par do fato de que não vão voar para lugar nenhum, mas os critérios para a escolha dos participantes serão similares, senão os mesmos, que os exigidos de futuros astronautas. A contribuição deles para a preparação de missões tripuladas de longa duração será suprema”, diz ela.

Quem topar aventura precisa ter entre 25 e 50 anos, falar inglês e russo fluentemente, ter formação universitária e especialização em engenharia, biologia, medicina ou ciência da computação. Conhecimentos de primeiros socorros são bem vindos. A seleção dos participantes já começou (ficou interessado? Visite o
site, em inglês, e veja como se inscrever).

Os trabalhos começam já em dezembro de 2007, com um teste de isolamento que deve durar entre 10 dias e duas semanas. No primeiro semestre de 2008, outro teste, dessa vez, de 100 dias. No segundo semestre, mais um de 100 dias. E no primeiro semestre de 2009 começa a aventura para valer. Moscou não é Marte, mas a experiência promete reservar muitas emoções. Vale uma espiadinha.
g1

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quinta-feira, 28 de junho de 2007 às 9:32:00 AM |  

Seis desconhecidos confinados em um espaço fechado e observados 24 horas por dia. Parece um formato batido de programa de televisão? Que nada, é ciência espacial! Em parceria com pesquisadores europeus, cientistas russos planejam, no primeiro semestre de 2009, trancar um grupo de pessoas por 520 dias (é quase um ano e meio!) e estudar que problemas médicos e psicológicos podem surgir. O objetivo: se preparar para potenciais dificuldades humanas de uma missão a Marte.

Viajar ao planeta vermelho envolve mais que complicadas questões tecnológicas, como o tipo de foguete a ser usado e o desenvolvimento do módulo de pouso. Com a tecnologia atual, as sondas que enviamos a Marte demoram cerca de dois anos para sair daqui e chegar lá. Em uma futura missão tripulada, a viagem de ida e volta seria imensamente mais longa do que a parte no planeta em si. Em média, a duração prevista seria de, no mínimo, dois anos de viagem (ida e volta) para passar não mais que 30 dias por lá.

Passar dois anos a milhares de quilômetros do hospital mais próximo traz riscos de saúde grandes e óbvios. Em dois anos pessoas adoecem, morrem e nascem. E também cortam o dedo, arrancam a unha, quebram o braço e batem a cabeça. Têm brigas e se apaixonam. São coisas normais, que rumo a Marte podem se tornar um perigo à vida da tripulação e ao sucesso da missão.

Ninguém pode responder direito o que pode acontecer, porque, na prática, ninguém sabe o que vai se passar na cabeça dos astronautas durante uma missão como essa - por mais profissionais sérios e treinados que sejam. É por isso que o projeto Mars500 (“Mars” é Marte em inglês e o 500 se refere ao número de dias de confinamento) foi criado.

Baseado no programa montado pela Rússia para uma missão real a Marte, o projeto vai confinar seis pessoas, com formação científica, em instalações do Instituto de Problemas Biomédicos da Federação Russa, em Moscou. Haverá três fases principais: a simulação da viagem de ida (que levaria cerca de 250 dias), da chegada e descida em Marte (30 dias) e da viagem de volta (240 dias).

Durante todo o projeto eles estarão completamente isolados e vão realizar experimentos científicos como astronautas de verdade. A comida e a água que forem colocadas ali no primeiro dia -- iguaizinhas àquelas que os tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) consomem -- vão precisar durar até o fim da simulação. As horas de atividade também serão iguais às da ISS: eles terão dois dias de folga a cada cinco de trabalho. Com a exceção do comandante, os outros tripulantes vão se revezar nos turnos da noite.

Os participantes só poderão se comunicar por rádio, que também vai simular a viagem a Marte -- ou seja, haverá um atraso nas comunicações de 20 minutos. O “astronauta” pergunta e só 20 minutos depois o controle de missão receberá a questão. Eles respondem e são mais 20 minutos até a tripulação receber a resposta. Qualquer emergência que ocorra lá dentro, real ou simulada, eles terão que resolver sozinhos.


“Com a finalização da construção da Estação Espacial Internacional, missões tripuladas à Lua e a Marte são o próximo passo lógico da exploração espacial e estudos de isolamento são uma ferramenta importante para investigar os efeitos de longo prazo nos seres humanos, e também para testar as ferramentas e os procedimentos operacionais envolvidos em um projeto como esse”, explica Jennifer Ngo-Anh, a responsável pela participação da Agência Espacial Européia (ESA) no projeto russo.

Segundo ela, a idéia principal é imitar da melhor maneira possível todos os aspectos do ambiente de uma nave espacial. Isso inclui limitação de espaço e de recursos, perda da Terra como referência visual e de coisas como a luz solar e o ciclo normal de dia e noite. “Simulações como essa ficam centradas nas investigações de natureza psicológica. Por exemplo, os efeitos do isolamento, do confinamento, da composição da equipe, das diferenças sócio-culturais entre os tripulantes e de outros fatores humanos, individuais e coletivos, na perfomance do grupo”, diz ela. Como extra, iniciativas do tipo servem para testar também equipamentos e a comunicação entre “astronautas” e o controle de missão.

Em “Marte”

A instalação onde os ‘brothers de Marte’ ficarão confinados é composta por cinco módulos (veja gráfico). A área dos quatro onde eles vão viver a maior parte do tempo é de 550 metros cúbicos (cúbicos, porque simula uma nave espacial, onde, pela ausência de gravidade, todo o espaço pode ser usado) - o que é excelente para um apartamento, mas um pouco apertado para seis pessoas levarem uma vida durante um ano e meio. Cada módulo tem uma função exclusiva. O primeiro é onde serão feitas as pesquisas e onde eventuais problemas de saúde poderão ser tratados (em caso de alguma doença contagiosa, por exemplo, o tripulante fica isolado do resto dos colegas ali). O segundo é onde os participantes vão dormir (em quartos individuais), comer, tomar banho, conversar e conviver. O terceiro é o módulo de órbita e pouso em Marte. O quarto abriga a despensa e o quinto, externo, é “Marte”.

Quando chegarem à segunda fase da missão três tripulantes selecionados vão ter a “honra” de simular os trabalhos no planeta. Se na vida real ser escolhido para pisar em Marte será uma honraria disputada por astronautas de todo o mundo, na simulação russa pode ser uma grande roubada. Os três “sortudos” passarão 30 dias isolados dos outros três, “em Marte”. Até aí, tudo bem. O problema é que antes do “pouso”, eles ficarão outros 30 dias presos às suas camas em posição inclinada, com a cabeça mais baixa que o corpo. O objetivo não é torturar ninguém, mas simular fisiologicamente alguns dos efeitos da gravidade reduzida.


“Durante esse tipo de estudo em cama é possível simular muitos dos fenômenos que ocorrem quando estamos em microgravidade, como a elevação dos fluídos do corpo e a redistribuição do peso, entre outros”, explica Jennifer Ngo-Anh.

O truque de colocar participantes quase de ponta cabeça para simular a microgravidade pode até dar certo, mas não há jeito de se simular a sensação de ausência de gravidade na Terra (pelo menos não por longos períodos de tempo). Essa é uma das coisas que o Mars500 não poderá testar e é um dos principais problemas de uma missão espacial de longa duração.

A ausência de gravidade enfraquece ossos e atrofia músculos. Na Estação Espacial Internacional, onde astronautas ficam no máximo seis meses consecutivos, há uma esteira onde eles são obrigados a correr regularmente para tentar minimizar os problemas causados pela falta de peso. Rumo a Marte, com aparente gravidade zero por muito mais tempo, o problema deve ser ainda maior.

Riscos e tabus

As questões que o projeto russo pretende responder são sérios dilemas éticos, que estão tirando o sono de especialistas de todo o mundo. Recentemente, um documento da Nasa divulgado à imprensa pedia mais discussões sobre o que fazer em casos como doença e morte durante uma missão de longa duração.

Parece excesso de pessimismo? Pois está longe de ser. Um simples corte no dedão que infeccionasse de forma grave durante uma missão poderia causar problemas graves, e ameaçaria todo o sucesso da missão. Mesmo que houvesse um médico a bordo há certas coisas que só podem ser tratadas em um hospital. O que fazer se o apêndice de um tripulante estourar durante a viagem? Se alguém se estranhar com um equipamento e perder um braço? Se dois astronautas, estressados pela pressão de um projeto como esse, perdessem a cabeça e brigassem até algum se machucar de verdade?

Na teoria, gostaríamos de acreditar que vidas humanas seriam mais importantes e que a missão deveria ser abortada e a nave levada de volta à Terra. Mas no espaço as coisas não são tão simples. Não é possível simplesmente virar a nave 180º e voltar para a Terra, porque viagens do tipo são cuidadosamente calculadas. O combustível é contado e a trajetória depende da gravidade dos corpos celestes por ali.

Há mais: o que fazer se alguém morrer a bordo? Jogar o corpo pela escotilha como lixo espacial? Não parece algo que as famílias vão gostar muito. Ou deixar o que restou da tripulação conviver com um cadáver a bordo por meses a fio? Outro ponto, mais tabu nas agências espaciais que a morte: o sexo. Não é difícil imaginar que uma tripulação mista, confinada por tanto tempo junta, estressada e pressionada, comece a ter pensamentos menos profissionais e mais carnais ao olhar para os colegas. E nenhuma agência até agora parece levar essa possibilidade numa boa.

O que fazer para minimizar esse tipo de coisa? Levar tripulações somente com homens ou somente com mulheres não vai parecer lá muito bem aos olhos de quem defende a igualdade entre os sexos - e, de qualquer maneira, ninguém garante que esse é um modo muito eficiente de evitar o sexo no espaço. No caso de doenças, parece inteligente levar astronautas mais jovens do que mais velhos, que, embora mais experientes, também são mais sujeitos a problemas de saúde. Por outro lado, a radiação espacial pode causar infertilidade e problemas genéticos nos óvulos e espermatozóides - e, nesse ponto, os astronautas mais velhos, que já tiveram filhos, levam vantagem, pois têm menos a perder.

A tripulação e o início da jornada

É por isso que a seleção das vagas para o Mars500 será rigorosa. A distribuição entre homens e mulheres vai depender de quem se qualificar melhor na seleção. Sabe-se, no entanto, que a tripulação será internacional e deverá falar inglês e russo. Segundo Jennifer Ngo-Anh, a seleção será o mais próxima possível da feita com candidatos a astronautas de verdade. “É claro que nossos voluntários estão a par do fato de que não vão voar para lugar nenhum, mas os critérios para a escolha dos participantes serão similares, senão os mesmos, que os exigidos de futuros astronautas. A contribuição deles para a preparação de missões tripuladas de longa duração será suprema”, diz ela.

Quem topar aventura precisa ter entre 25 e 50 anos, falar inglês e russo fluentemente, ter formação universitária e especialização em engenharia, biologia, medicina ou ciência da computação. Conhecimentos de primeiros socorros são bem vindos. A seleção dos participantes já começou (ficou interessado? Visite o
site, em inglês, e veja como se inscrever).

Os trabalhos começam já em dezembro de 2007, com um teste de isolamento que deve durar entre 10 dias e duas semanas. No primeiro semestre de 2008, outro teste, dessa vez, de 100 dias. No segundo semestre, mais um de 100 dias. E no primeiro semestre de 2009 começa a aventura para valer. Moscou não é Marte, mas a experiência promete reservar muitas emoções. Vale uma espiadinha.
g1
Postado por Igor Viana Marcadores:

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