domingo, 8 de julho de 2007

FORTALEZA das antigas: Os cinemas de Fortaleza


O escurinho do cinema há mais de um século é um ambiente mágico. Escolhido pelos espectadores que ali vão esquecer um pouco a realidade e viajar para universos contígüos, não importa o tema. O público quer vivenciar histórias diferentes e a grande tela no ambiente escuro proporciona esse deleite. A história modificou muito o hábito e o certo é que hoje há muito menos cinemas que há cinqüenta anos.

A região metropolitana de Fortaleza hoje abriga quase três milhões de habitantes, mas a quarta capital do país comporta apenas 19 cinemas. Este número é proporcionalmente ínfimo se levarmos em consideração que em 1951, a cidade tinha 280 mil moradores e os cinemas chegavam a 22. As mudanças de hábito foram as principais causas para o não crescimento das salas de exibição e até mesmo do desaparecimento de muitas delas, se observarmos, por exemplo, o Centro de Fortaleza.

Hoje em dia o audiovisual está muito mais acessível, a tecnologia da era dos DVDs poporcionou ao homem moderno a possibilidade de ter seu ´home teather´, redundantemente, se traduzirmos, em casa. As salas de videocine se proliferam em profusão, apesar do grande apelo ser a indústria audiovisual da pornografia. Tempos modernos que substituem um passado recente, quando se escolhiam as melhores roupas para encarar nas telas o glamour da sétima arte.



Resistindo heroicamente à voragem do tempo, o Cine São Luiz, hoje Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, é o último cinema do Centro. Ali mesmo, na Praça do Ferreira já estiveram o Cine-Teatro-Majestic-Palace e o Cine Moderno. Hoje a diversão proporcionada pela grande tela se concentra nos shopping centres e singulares investidas criam espaços como o Cine Benjamin Abrahão, na Casa Amarela Eusélio Oliveira, na Universidade Federal do Ceará.

Completos 49 anos, o Cine São Luiz foi inaugurado no dia 26 de março de 1958, mas sua construção foi iniciada em 1939. Quando de sua inauguração o São Luiz foi elogiado pela imprensa da época como a mais bela casa de espetáculos cinematógraficos do país. Hoje as sessões continuam, assim como os festivais de cinema de Fortaleza: o Cine Ceará que teve sua 17ª edição e o For Rainbow, o Festival de Cinema da Diversidade Sexual que acontece pela primeira vez, dos dias 27 a 31 deste mês.

Na Praça do Ferreira do início do século XX, inaugurou-se o Cine-Teatro-Majestic-Palace no dia 14 de julho de 1917. Para a confusão do público presente o espetáculo de inauguração foi o show de uma transformista,o que, é lógico, suscitou diversas especulações sobre o sexo da artista italiana, seu nome: Fatima Miris.


Quatro anos depois inaugurava-se o Cine Moderno, também na Praça do Ferreira. As torres imponentes e a marquise frontal constituída de peças vítreas de diferente cores davam ao edifício a elegância que condizia com a ´belle epóque´ de Fortaleza e os frequentadores não poupavam medidas para assitirem às sessões elegantemente. Nem o Majestic nem o Moderno existem mais.

Hoje é outro Majestick, assim com ´k´, que o diferencia do original, assim como a programação exibida. O novo é na verdade uma sala de video-cine e a programação é apenas a pornográfica. Este Majestick se ombreia às outras salas do Centro: Paladium, Star, Rex, Babilonia etc.

O antigo Cine Majestic sofreu um incêndio no di 4 de abril de 1955, queimando inclusive os prédios vizinhos, mas isto não o impediu de continuar funcionando. Na madrugada de 1º de janeiro de 1968, um segundo incêndio marcaria o fim da casa de espetáculos.

A lista de cinemas espalhados pelos bairros é longa. Havia o Cine Centro Artístico Cearense que funcionou de 1926 a 1957. O Cine Luz exibiu filmes por 20 anos, desde 1931. O Cine Nazaré, depois Familiar, existiu no Otávio Bonfim de 1942 a 1970. O Cine Rex durou de 1943 a 1960. O Joaquim Távora projetou películas de 1951 a 1959. Enfim, outros tempos. Existiram ainda O Cine Ventura e o Cine Santos Dumont, na Aldeota; o Cine Paroquial, que ficava vizinho à Igreja do Pequeno Grande e o Cine Pio X, na Praça da Igreja do Coração de Jesus, no Centro.


Na Rua Barão do Rio Branco havia o Cine Diogo e o Cine Fortaleza. O primeiro foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1940 e a última sessão ocorreu no dia 30 de janeiro de 1997. O Fortaleza fechou no dia 29 de abril de 1999, encerrando o ciclo de cinemas do Centro que não resistiram à chegada das salas múltiplas nos centros comerciais fechados, fenômeno que começa a ocorrer em julho de 1998.

A Rua Floriano Peixoto tinha o Cine Jangada, conhecido pelos mais novos, também como cinema de filmes adultos, mas ele foi inaugurado no dia 24 de fevreiro de 1949 e tinha programação normal até a década de 1970. Inclusive a história cultural da cidade registra que foi nas décadas de 1950 e 1960 que o Cine Jangada foi pioneiro em exibir produções inglesas, italianas e francesas. Da década de 1980 até a sua extinção é que o cinema passou a exibir filmes eróticos, mas surpreendentemente havia um costume singular no meio de toda aquela programação adulta. Em todas as Semanas Santas, na Sexta-feira da Paixão, invariavelmente se podia ver A Paixão de Cristo, no Cine Jangada. Sua última exibição foi em 22 de julho de 1996.

Mais novo que o Cine Jangada, próximo ao Instituto Dr. José Frota, havia o Cine Art. Este foi inaugurado em 1959. Em seus últimos dias teve também que apelar para a exibição pornográfica e filmes de ´karatê´, mas nem isso impediu que ele fizesse sua última sessão no dia 29 de outubro de 1989.

Em 1974, na Avenida Santos Dumont, se inaugurava o primeiro shopping center da cidade, o Center Um, e com o centro comercial também vinha um cinema. O Cine Center Um, que depois passaria a chamar-se Cine Gazeta, foi pródigo em trazer aos fortalezenses filmes de arte e clássicos da cinematografia mundial, assim como cinema independente e obras fora do circuito. Ali, por exemplo, se exibiu Cidadão Kane, de OrsonWelles; A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick; Dodeskaden, de Akira Kurosawa, entre outros. Depois de sofrer a concorrência de outras salas e o declínio de público o cinema fechou suas portas no dia no dia 3 de setembro de 1993.



Houve ainda o Studio Beira-Mar, na avenida que lhe dava o nome, inaugurado no dia 3 de agosto de 1995 e que teve sua última sessão no dia 27 de novembro de 2000.

Das lembranças dos cinemas de passados distante e mais recente restou o encanto daqueles que testemunharam o nascimento desta era da imagem que vivemos hoje. Em breve a projeção deverá se dar em nossos próprios celulares e tudo será passado.
dn

2 comentários:

Unknown disse...

é sempre importante que se tenha acesso a materiais tao ricos a respeito de nosa cidade. Parabéns pela publicação. =]

melquiadesalexandre disse...

Parabens pelo seu blog, uma viagem agradavel no tunel do tempo.


O escurinho do cinema há mais de um século é um ambiente mágico. Escolhido pelos espectadores que ali vão esquecer um pouco a realidade e viajar para universos contígüos, não importa o tema. O público quer vivenciar histórias diferentes e a grande tela no ambiente escuro proporciona esse deleite. A história modificou muito o hábito e o certo é que hoje há muito menos cinemas que há cinqüenta anos.

A região metropolitana de Fortaleza hoje abriga quase três milhões de habitantes, mas a quarta capital do país comporta apenas 19 cinemas. Este número é proporcionalmente ínfimo se levarmos em consideração que em 1951, a cidade tinha 280 mil moradores e os cinemas chegavam a 22. As mudanças de hábito foram as principais causas para o não crescimento das salas de exibição e até mesmo do desaparecimento de muitas delas, se observarmos, por exemplo, o Centro de Fortaleza.

Hoje em dia o audiovisual está muito mais acessível, a tecnologia da era dos DVDs poporcionou ao homem moderno a possibilidade de ter seu ´home teather´, redundantemente, se traduzirmos, em casa. As salas de videocine se proliferam em profusão, apesar do grande apelo ser a indústria audiovisual da pornografia. Tempos modernos que substituem um passado recente, quando se escolhiam as melhores roupas para encarar nas telas o glamour da sétima arte.



Resistindo heroicamente à voragem do tempo, o Cine São Luiz, hoje Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, é o último cinema do Centro. Ali mesmo, na Praça do Ferreira já estiveram o Cine-Teatro-Majestic-Palace e o Cine Moderno. Hoje a diversão proporcionada pela grande tela se concentra nos shopping centres e singulares investidas criam espaços como o Cine Benjamin Abrahão, na Casa Amarela Eusélio Oliveira, na Universidade Federal do Ceará.

Completos 49 anos, o Cine São Luiz foi inaugurado no dia 26 de março de 1958, mas sua construção foi iniciada em 1939. Quando de sua inauguração o São Luiz foi elogiado pela imprensa da época como a mais bela casa de espetáculos cinematógraficos do país. Hoje as sessões continuam, assim como os festivais de cinema de Fortaleza: o Cine Ceará que teve sua 17ª edição e o For Rainbow, o Festival de Cinema da Diversidade Sexual que acontece pela primeira vez, dos dias 27 a 31 deste mês.

Na Praça do Ferreira do início do século XX, inaugurou-se o Cine-Teatro-Majestic-Palace no dia 14 de julho de 1917. Para a confusão do público presente o espetáculo de inauguração foi o show de uma transformista,o que, é lógico, suscitou diversas especulações sobre o sexo da artista italiana, seu nome: Fatima Miris.


Quatro anos depois inaugurava-se o Cine Moderno, também na Praça do Ferreira. As torres imponentes e a marquise frontal constituída de peças vítreas de diferente cores davam ao edifício a elegância que condizia com a ´belle epóque´ de Fortaleza e os frequentadores não poupavam medidas para assitirem às sessões elegantemente. Nem o Majestic nem o Moderno existem mais.

Hoje é outro Majestick, assim com ´k´, que o diferencia do original, assim como a programação exibida. O novo é na verdade uma sala de video-cine e a programação é apenas a pornográfica. Este Majestick se ombreia às outras salas do Centro: Paladium, Star, Rex, Babilonia etc.

O antigo Cine Majestic sofreu um incêndio no di 4 de abril de 1955, queimando inclusive os prédios vizinhos, mas isto não o impediu de continuar funcionando. Na madrugada de 1º de janeiro de 1968, um segundo incêndio marcaria o fim da casa de espetáculos.

A lista de cinemas espalhados pelos bairros é longa. Havia o Cine Centro Artístico Cearense que funcionou de 1926 a 1957. O Cine Luz exibiu filmes por 20 anos, desde 1931. O Cine Nazaré, depois Familiar, existiu no Otávio Bonfim de 1942 a 1970. O Cine Rex durou de 1943 a 1960. O Joaquim Távora projetou películas de 1951 a 1959. Enfim, outros tempos. Existiram ainda O Cine Ventura e o Cine Santos Dumont, na Aldeota; o Cine Paroquial, que ficava vizinho à Igreja do Pequeno Grande e o Cine Pio X, na Praça da Igreja do Coração de Jesus, no Centro.


Na Rua Barão do Rio Branco havia o Cine Diogo e o Cine Fortaleza. O primeiro foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1940 e a última sessão ocorreu no dia 30 de janeiro de 1997. O Fortaleza fechou no dia 29 de abril de 1999, encerrando o ciclo de cinemas do Centro que não resistiram à chegada das salas múltiplas nos centros comerciais fechados, fenômeno que começa a ocorrer em julho de 1998.

A Rua Floriano Peixoto tinha o Cine Jangada, conhecido pelos mais novos, também como cinema de filmes adultos, mas ele foi inaugurado no dia 24 de fevreiro de 1949 e tinha programação normal até a década de 1970. Inclusive a história cultural da cidade registra que foi nas décadas de 1950 e 1960 que o Cine Jangada foi pioneiro em exibir produções inglesas, italianas e francesas. Da década de 1980 até a sua extinção é que o cinema passou a exibir filmes eróticos, mas surpreendentemente havia um costume singular no meio de toda aquela programação adulta. Em todas as Semanas Santas, na Sexta-feira da Paixão, invariavelmente se podia ver A Paixão de Cristo, no Cine Jangada. Sua última exibição foi em 22 de julho de 1996.

Mais novo que o Cine Jangada, próximo ao Instituto Dr. José Frota, havia o Cine Art. Este foi inaugurado em 1959. Em seus últimos dias teve também que apelar para a exibição pornográfica e filmes de ´karatê´, mas nem isso impediu que ele fizesse sua última sessão no dia 29 de outubro de 1989.

Em 1974, na Avenida Santos Dumont, se inaugurava o primeiro shopping center da cidade, o Center Um, e com o centro comercial também vinha um cinema. O Cine Center Um, que depois passaria a chamar-se Cine Gazeta, foi pródigo em trazer aos fortalezenses filmes de arte e clássicos da cinematografia mundial, assim como cinema independente e obras fora do circuito. Ali, por exemplo, se exibiu Cidadão Kane, de OrsonWelles; A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick; Dodeskaden, de Akira Kurosawa, entre outros. Depois de sofrer a concorrência de outras salas e o declínio de público o cinema fechou suas portas no dia no dia 3 de setembro de 1993.



Houve ainda o Studio Beira-Mar, na avenida que lhe dava o nome, inaugurado no dia 3 de agosto de 1995 e que teve sua última sessão no dia 27 de novembro de 2000.

Das lembranças dos cinemas de passados distante e mais recente restou o encanto daqueles que testemunharam o nascimento desta era da imagem que vivemos hoje. Em breve a projeção deverá se dar em nossos próprios celulares e tudo será passado.
dn
Postado por Igor Viana Marcadores:

2 comentários:

Unknown disse...

é sempre importante que se tenha acesso a materiais tao ricos a respeito de nosa cidade. Parabéns pela publicação. =]

28 de setembro de 2009 às 19:29  
melquiadesalexandre disse...

Parabens pelo seu blog, uma viagem agradavel no tunel do tempo.

16 de outubro de 2011 às 10:35