quinta-feira, 8 de março de 2007

BUSHADA




Hoje, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, faz uma visita às pressas ao Brasil em busca, quem diria, do nosso bagaço.


Com o menor custo de produção do mundo, US$ 0,22 por litro, o etanol feito a partir do bagaço de cana é mais barato e mais limpo do que o feito com espiga de milho, base do combustível norte-americano.


No discurso oficial, Bush persegue, internamente, a meta recém-lançada de substituir 20% do consumo de gasolina por etanol nos próximos 10 anos.

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Na realidade, falamos do presidente que se recusa, ainda hoje, a estabelecer quotas de emissão de gases poluentes, andando na contramão de qualquer movimento ambientalista; do presidente ligado às empresas de petróleo (não esquecer de que parte do país vem a família Bush); do presidente que enfrenta, sobre a questão do etanol, a oposição do lobby agrário e das empresas de álcool nos EUA; e, por fim, do presidente que permitiu a redução drástica da verba destinada ao investimento na América Latina nos últimos anos.


Por que Bush estaria empenhado a contrariar suas disposições naturais para estimular a produção de energia alternativa no Brasil? O país realmente precisa encontrar fontes seguras de abastecimento energético.


E de preferência, muito longe do Oriente Médio. Mas, antes disso, o etanol é o mais novo combustível das disputas políticas no continente.


Washington justifica a esquerdização na América Latina como reflexo do seu abandono à própria sorte.


Por esta argumentação, isso quer dizer: na ausência dos gatos, à caça no Iraque, os ratos fizeram a festa. Agora, é hora de recuperar o tempo perdido. A estratégia: cobrir o preço do concorrente, Hugo Chávez, e usar um discurso voltado ao desenvolvimento dos países mais pobres.


Pelo acordo que pode ser firmado entre Bush e Lula, o Brasil – com financiamentos norte-americanos - exportaria sua tecnologia para a implantação de usinas de etanol no Caribe, América Central e do Sul.


Segundo autoridades dos Estados Unidos, o objetivo seria a cooperação econômica com os mais pobres.


A Casa Branca credita a popularidade de Chávez aos seus petrodólares, que movimentaram programas sociais dentro e fora da Venezuela, e tentará neutralizá-los com a transformação do maior mercado consumidor do petróleo venezuelano em produtor de etanol.


O Itamaraty, ao contrário das acusações de anti-americanismo, sabe qual a moeda circulante nesta visita.


Mas se faz de desentendido, tanto para Chávez como para Bush. Enquanto isso, Lula tentará pleitear com o líder norte-americano alguns apoios na OMC e na candidatura brasileira como membro permanente da ONU.


Ambas tentativas, porém, pouco viáveis de acontecerem.


E o bagaço? No encontro entre Lula e Bush, volta ao seu papel inicial de ser apenas o resto, ofuscado pelo prato principal.

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quinta-feira, 8 de março de 2007 às 3:54:00 PM |  



Hoje, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, faz uma visita às pressas ao Brasil em busca, quem diria, do nosso bagaço.


Com o menor custo de produção do mundo, US$ 0,22 por litro, o etanol feito a partir do bagaço de cana é mais barato e mais limpo do que o feito com espiga de milho, base do combustível norte-americano.


No discurso oficial, Bush persegue, internamente, a meta recém-lançada de substituir 20% do consumo de gasolina por etanol nos próximos 10 anos.

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Na realidade, falamos do presidente que se recusa, ainda hoje, a estabelecer quotas de emissão de gases poluentes, andando na contramão de qualquer movimento ambientalista; do presidente ligado às empresas de petróleo (não esquecer de que parte do país vem a família Bush); do presidente que enfrenta, sobre a questão do etanol, a oposição do lobby agrário e das empresas de álcool nos EUA; e, por fim, do presidente que permitiu a redução drástica da verba destinada ao investimento na América Latina nos últimos anos.


Por que Bush estaria empenhado a contrariar suas disposições naturais para estimular a produção de energia alternativa no Brasil? O país realmente precisa encontrar fontes seguras de abastecimento energético.


E de preferência, muito longe do Oriente Médio. Mas, antes disso, o etanol é o mais novo combustível das disputas políticas no continente.


Washington justifica a esquerdização na América Latina como reflexo do seu abandono à própria sorte.


Por esta argumentação, isso quer dizer: na ausência dos gatos, à caça no Iraque, os ratos fizeram a festa. Agora, é hora de recuperar o tempo perdido. A estratégia: cobrir o preço do concorrente, Hugo Chávez, e usar um discurso voltado ao desenvolvimento dos países mais pobres.


Pelo acordo que pode ser firmado entre Bush e Lula, o Brasil – com financiamentos norte-americanos - exportaria sua tecnologia para a implantação de usinas de etanol no Caribe, América Central e do Sul.


Segundo autoridades dos Estados Unidos, o objetivo seria a cooperação econômica com os mais pobres.


A Casa Branca credita a popularidade de Chávez aos seus petrodólares, que movimentaram programas sociais dentro e fora da Venezuela, e tentará neutralizá-los com a transformação do maior mercado consumidor do petróleo venezuelano em produtor de etanol.


O Itamaraty, ao contrário das acusações de anti-americanismo, sabe qual a moeda circulante nesta visita.


Mas se faz de desentendido, tanto para Chávez como para Bush. Enquanto isso, Lula tentará pleitear com o líder norte-americano alguns apoios na OMC e na candidatura brasileira como membro permanente da ONU.


Ambas tentativas, porém, pouco viáveis de acontecerem.


E o bagaço? No encontro entre Lula e Bush, volta ao seu papel inicial de ser apenas o resto, ofuscado pelo prato principal.
Postado por Igor Viana Marcadores: ,

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